quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Memória da posteridade

"saudades daquilo que nunca vivi"..essa é a sensação que me impulsiona a escreve..escrever em cadernos (e aqui no blog) minhas saudades em meio a conturbada vida, a rotina , as solicitações do dia-a-dia. Vou tentando dar corpo, através dos textos que neste caso são cacos, a necessidade de uma unidade pela qual acredito, todos nós estamos em busca , cada um ao seu modo. O aurélio me diz que posteridade refere-se aos descendentes de uma mesma origem ou pode também estar falando de gerações futuras.  É curioso porque através da escrita reunimos o passado, que no momento em que escrevo é presente, para entender o futuro ou pelo menos conviver melhor com o "por vir". mas será que existe uma memória da posteridade? ou eu estou delirando assim como cervantes em seu D. Quixote? Sei que a realidade é fragil diante do pensamento que percorre, sem se desligar, passado presente e futuro em uma linha continua e se mostra por meio do tempo em histórias que povoam o imaginário da humanidade.  Aqui no quartinho que reservamos para o computador, observo o passado nos desenhos , posters de projetos realizados, vivêncio o futuro escrevendo e  observando os objetos; violão, flauta, maquina fotográfica, as tintas e pincéis com os aquais registro para o futuro minhas impressões.  Essa saudade do futuro é essencial para a renovação do presente constantemente alimentado pelo passado, essa vontade de deixar uma marca pessoal em todas as coisas que fazemos. (12.06.04)      

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AUDISSERVAÇÃO

Acordamos com os sons do trânsito em nossa janela. No interior de nossa casa, os ruídos dos aparelhos domésticos já estão tão incorporados que nem sequer nos dizem algo ou nos incomodam. Saímos para o trabalho e não conseguimos escutar a música que toca na rádio do ônibus, pois o motor, desregulado, ultrapassa, em som, a música que toca. Saltamos do ônibus e ouvimos berros anunciando a próxima saída da “van”; no meio desse alvoroço, bem ao longe, há a sirene do navio que se intercala com a de outro navio avisando que já vai partir. Neste momento, ao ouvido atento, aparecem sons que trazem vida de outras terras, de outros mares, de outros tempos. Neste instante, não se está mais em meio ao trânsito asfixiante da cidade, mas em uma instância, talvez, cuja temporalidade nos remete a uma saudosa espectativa de ser aquele som um eco da alma, eco que vai e volta contendo um universo sob sons de tantos tons que carrega consigo.
Uma vez que interiorizamos esta “audisservação sonora” não necessitamos de conhecimentos prévios a respeito de música. Nos deixamos levar pelo som , embalados pelos timbres, alturas e texturas – elementos que formam a teia constituinte do que está invisível aos olhos, porém, concreto ao espírito – alcançando os lugares mais profundos do “Eu”. Desta forma, a matéria prima da música, o som, penetra tomando-nos, sem pedir licença, e modificando ambientes, mudando humores, redesenhando uma paisagem e recaracterizando um espaço determinado.
A ruptura com o tempo cronológico faz com que a música seja, entre as linguagens artísticas, a que mais dificuldades apresenta para análises comparativas. No entanto, a música guarda a magia de, ao entrarmos em contato com ela, nos transportar à perspectiva de novos sentidos como uma “obra aberta”, sem precisar sair de onde estamos.  Talvez seja esta a dificuldade imposta pela recepção de obras musicais contemporâneas que exigem um postura menos previsível, do ponto de vista da experiência sonora, assim como um desprendimento das formas cristalizadas para que “a nova realidade sonora” seja contemplada, afinal ela é parte de nossa vida cotidiana.