quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Memória fotografica

A realidade de um instante paralisada na retina da minha máquina fotográfica é novidade que nunca deixa de ser . Ao voltar a fotografar me reconcilio com o que vai lá dentro da alma e valorizo mais ainda o olhar. Quando por alguma necessidade tiro os óculos, o mundo se turva, se deforma, se reúne em um aglomerado de manchas que só um impressionista seria capaz de compreender. Através das janelas de minha alma vou compondo imagens da minha vida em cores preto e branco que parecem não se renderem ao tempo, tempo que insisto em transformar em instante precioso que se paralisa no clicar preciso, no enquadramento incomum, na carga de emoção contida na imagem, no tempo que escapa por entre os dedos....melhor dizendo, por entre o pensamento. Nesta busca por um momento que fale mais, vou formando minha memória visual, um banco de imagens que vai devolvendo sentido ao que faço, ao que componho, mapeando os desejos da alma e formulando mais questionamentos, porque este também é o combustível para tal empreitada que não termina nunca, porque não deixa de ser novidade, isso é uma constante! Investigar a realidade...é isso que acabamos fazendo ao fotografá-la. É claro que tem aquele gostinho de nos apoderarmos do tempo, de enclausuramos o íntimo do fotografado, como pensam os índios, pois diante da lente não há como esconder o que vai dentro da gente. Ela revela tudo; alegria, nervosismo,indiferença, violência, medo, satisfação, despreocupação....poucas são as pessoas que se deixam fotografar, sentem-se invadidas e é isso que a lente faz. Lembro de um tio “Tupyaçu” que vivia com sua maquina a tira-colo, flagrando os momentos em família. Talvez o gosto pela fotografia venha desta MEMÓRIA e pela dificuldade que existia, na minha época de menino, de fotografar...são poucas as fotos que tenho desta época da infância...Então quando apareciam fotos, ou o tio Tupyaçu estava na área, era um momento de muita alegria e ao mesmo tempo de apreensão porque nem todos queriam ser fotografados, mas todos gostavam de comentar as imagens e lembrar dos momentos a que aquelas imagens os remetiam. A realidade que um dia foi paralisada na retina da máquina fotográfica do tio Tupyaçu, jorra hoje em minha imaginação fazendo com que eu tenha a necessidade e o prazer de continuar registrando, através de meu olhar, a realidade que me cerca.

2 comentários:

  1. Oi Celso!
    Eu sempre questionei essa coisa de "ser sempre o fotógrafo" porque este geralmente, nuca "aparece".
    Você agora acabou de quebrar em mim essa impressão. Como é forte a presença do seu tio em cada um dos registros fotográficos da sua infância.
    Você fala do poder de paralisar um "instante precioso", e isso não é uma coisa à toa. É quase (guardadas as devidas proporções) como ter o poder de guardar a eternidade numa garrafa ou ser o senhor do tempo...
    E mais impressionada fiquei com a presença real e quase visível do autor da obra. Do personagem que está por trás da lente.
    Viva o fotógrafo!!!

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  2. às vezes versos são como as fotografias - gravam-se em nossa memória como um flash na retina.
    Parábens pelos escritos e obrigada por sua visita!!
    Inté!

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