sábado, 31 de julho de 2010

Devaneios II

Quando voltei a postar texto em blog fiquei um pouco preocupado de como faria para ter o que dizer  ou ter o que postar. Então determinei a mim mesmo que escreveria todos os dias, mesmo nos dias em que não estivesse a fim, para que eu produzisse um estoque de textos ou um pequeno arquivo.  Acho que me impolguei demais e sem perceber o ritmo em que as postagens aconteciam continuei com minha determiação imposta a mim por mim mesmo. Ai o cadernão ficou de lado e as folhas avulsas foram aumentando de volume com alguns bons textos( segundo minha bela abelha, Douta, bailarina).  Depois de uma avaliação balizada de quem conhece do riscado(literalmente) não parei mais de "escrevinhá".  Com ou sem inspiração corro a tinta no papel, nem me preocupo se gasto muita caneta, aqui em casa tem um estoque satisfatório, algumas somem no quarto do Pedro, outras vão parar na bolsa da Jacque, mas a maioria fica em lugar inespugnável.  Esse frenesi "escrevinhador" iniciou-se em janeiro. De acordo com o amigo Jens "o avanço da idade faz com que tenhamos a vontade de registrar com mais frequência nossas experiências" e realmente percebo esse avanço ,  mas fico olhando ela passar , eu tô na minha, deixa ela ir em frente...vai passando..enquanto ela passa correndo eu vou andando lentamente olhando a paisagem ..a idade é muito apressada não aprecia o entorno, fica fazendo pressão. Por falar nisso, minha pressão anda meio desregulada ...sintoma dessa pressa da idade. Agora é assim, não consigo ir para cama sem escrever uma lauda que seja só pra desanuviar. Teimoso, depois de lavar a louça, vou pra cama crente que vou conciliar o sono rapidamente , mas para minha surpresa as letras ficam dançando na minha frente e quando me viro ..lá vem elas novamente ,zumbindo feito borrachudo em acampamento. Repelente aqui é feito de tinta azul, vermelha ou peta. Como não consigo escrever diretamente no computador recorro a velha esferografica. Sei lá , parece até aquele chazinho que agente bebe antes de dormir. Será que estou viciado em escrever ? Espero, então, que isso não tenha cura....minha bailarina me encontrará atônito embriagado de metaforas, largado no sofá da sala...quando ela tentar falar comigo responderei adjetivos substantivados em uma prosódia inusitada..saidos de minha pena inquieta!!!              

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O processo

  Algumas coisas são repugnantes no ser humano e uma delas, que fico me perguntando porque será que isso acontece, é traço fundamental dos trabalhadores de repartições públicas, que me desculpem meus amigos blogueiros servidores.  Quando você vai procurar alguma informação a respeito de assuntos relativos a doumentação de imóvel ou similares o sujeito no balcão antes mesmo de você falar já pergunta;__tá com o inteiro teor aí? É ...porque se não tiver nem adianta tirar os documentos!!! As vezes o assunto é de outra natureza , mas não adianta. Um belo dia fui a secretaria de  Educação ( onde por sinal é o que mais falta) e me informei na portaria onde conseguia informação sobre cadastro de professores. O guarda me indicou uma porta...fui até a porta e lentamente abri para me a nunciar e dei de cara com uma senhora que em pleno expediente se maquiava sem nenhuma cerimonia, olhou pra mim como se sua maquiagem fosse um despacho presidencial (neste caso era municipal mas a pretensão é a mesma) e teve a petulância de pedir que eu aguardasse no lado de fora . Para minha surpresa quem me direcionou para outra pessoa do setor ..sabe quem foi?  O rapaz da limpeza que vinha passando e se condoeu da minha cara de de maracuja, ali perto da porta, desanimado. Por intermédio dele que consegui a informação que precisava e vazei dali!
 O pior são aqueles que tratam da sua vida documental como servidor..eu já aprendi que não se pode ter dúvidas. Qualquer pergunta feita por eles você responde sim,tudo correto! pois senão será o seu martírio. Não estão prontos a resolver nada, parece até que incorporaram o imenso mecânismo burocratico do qual fazem parte e se você vacilar tornar-se-a um personagem kafkaniano completamente perdido, não sabendo pra onde vai nem porque. 
"na verdade, numa burocracia presa nesse circulo vicioso , o maior dos crimes é cumprir de maneira simples e direta a tarefa que deve ser cumprida, se o serviço estatal de concertos cumpre realmente a sua tarefa, isso é considerado um subproduto infeliz, já que o grosso da sua energia é usado para inventar procedimentos administrativos complicados que permitam inventar sempre novos obstáculos e assim adiar indefinidamente o trabalho"(ZIZEK:2008,PÁG160).
  Recebi o telefonema da coordenadoria  na qual agora sou professor lotado, me informando  qual seria a data da minha perícia admissional e caí na besteira de falar a atendente que só faltava o eletrocardiograma..pra que!  Ela imdiatamente responde com uma doçura de dar inveja:__Olha, meu bem, tem que estar com todos os exames, ta! O fato é que por trás deste "olha meu bem" está embutido o seguinte; eu não tenho nada a ver com isso, se você não levar os exames será cortado. Eu só estou ligando pra te avisar viu "meu bem!". Kafka e seu processo são atemporais e quem leu e já passou pelas repartições ou qualquer orgão movido pela burocracia vai concordar comigo. O mecanismo é absurdamente estéreo ...uma porta você apresenta os documentos..noutra porta carimbam os mesmos documentos, na terceira porta há uma vistoria dos carimbos  e assinaturas ...se faltar um carimbo você volta a primeira porta.
Citação:
ZIZEK,Slavoj. A visão em paralaxe. Ed. boitempo,2008                  

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O telegrama!



 O porteiro aqui do prédio me chamou e disse:__Celso tem um telegrama ai pra você! Momento de suspense pois as contas aqui andam meio atrazadas, minha primeira sensação ou intuíção foi de que seria telegrama de cobrança, mas depois de algum tempo me lembreri que nunca recebera telegrama de cobrança. Telegramas são de más notícias, falecimento, hospitalização..ou prêmio. Ma sa entonação que o porteiro imprimiu na voz ao se referir ao documento, me parecia ser algo de errado, ele me falou em um tom sério, grave, não poderia ser algo diferente.  As crianças brincando no pátio com sua gritaria aumentavam a confusão que se desenhava na minha cabeça. Com o documento em mãos não sabia se abria ali mesmo e acabava de vez com o suspense ou se compartilhava meu medo com minha senhora que pilotava seu possante fogão  em nosso castelo de 11 andares. Entrei no elevador e demorei ainda para apertar o botão do andar onde moramos..olhava e olhava o telegrama, virava desvirava e imaginava o que a mensagem traria em seu interior. Apertei o botão e resolvi então abrir o telegrama..na medida em que o elevador se movesse. Sozinho, ali naquele lugar poderia receber melhor uma má notícia se assim fosse, o que me protegia era apenas a porta pantografica de nosso antigo elevador. 4ºandar e nada de abrir o telegrama. perto da porta de casa rasguei o picote nos lados e fui lentamente desdobrando a folha ao mesmo tempo que entrava no apartamento. Para minha surpresa e alívio o telegrama dizia em letras garrafais: SOLICITAMOS SEU COMPARECIMENTO A SEEDUC-rua da ajuda n°5 no dia tal horário tal..afim de tratar da primeira etapa de sua admissão.  O telegrama me convocava em virtude de aprovação no concurso público para profesor de artes. Ao mesmo tempo que lia o texto mostrava para minha senhora que em um mixto de alegria e perplexidade , abria um sorriso luminosamente azul. Desci para o pátio novamente para folhear o jornal. ..o céu estava mais azul o dia mais iluminado com a certeza, agora, de que as contas voltarão a ficar em dia!   

Ps. Essa convocação já aconteceu algum tempo. Estou no ciep 351 desde Abril deste ano. Se você quiser pode visitar o blog da escola onde trabalho em "bom de Ler". As fotos e o texto são meus!!!!