sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AUDISSERVAÇÃO

Acordamos com os sons do trânsito em nossa janela. No interior de nossa casa, os ruídos dos aparelhos domésticos já estão tão incorporados que nem sequer nos dizem algo ou nos incomodam. Saímos para o trabalho e não conseguimos escutar a música que toca na rádio do ônibus, pois o motor, desregulado, ultrapassa, em som, a música que toca. Saltamos do ônibus e ouvimos berros anunciando a próxima saída da “van”; no meio desse alvoroço, bem ao longe, há a sirene do navio que se intercala com a de outro navio avisando que já vai partir. Neste momento, ao ouvido atento, aparecem sons que trazem vida de outras terras, de outros mares, de outros tempos. Neste instante, não se está mais em meio ao trânsito asfixiante da cidade, mas em uma instância, talvez, cuja temporalidade nos remete a uma saudosa espectativa de ser aquele som um eco da alma, eco que vai e volta contendo um universo sob sons de tantos tons que carrega consigo.
Uma vez que interiorizamos esta “audisservação sonora” não necessitamos de conhecimentos prévios a respeito de música. Nos deixamos levar pelo som , embalados pelos timbres, alturas e texturas – elementos que formam a teia constituinte do que está invisível aos olhos, porém, concreto ao espírito – alcançando os lugares mais profundos do “Eu”. Desta forma, a matéria prima da música, o som, penetra tomando-nos, sem pedir licença, e modificando ambientes, mudando humores, redesenhando uma paisagem e recaracterizando um espaço determinado.
A ruptura com o tempo cronológico faz com que a música seja, entre as linguagens artísticas, a que mais dificuldades apresenta para análises comparativas. No entanto, a música guarda a magia de, ao entrarmos em contato com ela, nos transportar à perspectiva de novos sentidos como uma “obra aberta”, sem precisar sair de onde estamos.  Talvez seja esta a dificuldade imposta pela recepção de obras musicais contemporâneas que exigem um postura menos previsível, do ponto de vista da experiência sonora, assim como um desprendimento das formas cristalizadas para que “a nova realidade sonora” seja contemplada, afinal ela é parte de nossa vida cotidiana.

6 comentários:

  1. Oi Celso.
    Concordo com o aspecto mágico da música, capaz de nos transportar para o ontem e para o amanhã, além de responder às nossas exigências emocionais do presente, sejam elas sentimentos de amor, paixão, ternura, perda, ira, abandono, dor... Para cada estado de espírito existe uma música correspondente.
    O mundo, sem música, seria triste. Insuportável, talvez.
    Agora com licença que hoje é sexta-feira e eu vou festejar. Ao som de Beth Carvalho.

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Olá Celso, vim agradecer a sua visita em meu blog e dizer que realmente no mundo de hoje é difícil encontrar um amor verdadeiro, ainda bem que nós fomos privilegiados!!!!
    Muito amor para você e sua esposa!
    Abraços...

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pela visita e pela belíssima descrição sobre audisservação.
    Beijos e apareça sempre!

    ResponderExcluir
  4. Olá, Celso!
    A música é, realmente, algo transcendental...
    Nos envolve e nos faz viajar no tempo. Tem propriedades incríveis...terapêuticas, eu diria.
    Também entendo que só mesmo os que tem ouvidos de ouvir podem entender a música, em toda a sua potencialidade.
    Para os ouvidos incautos, o mais belo som pode passar por mero ruído...Ao passo que, para os ouvidos atentos e entendedores, o mais sutil ruído pode se transformar em música.
    Que pena que, para nós, moradores das grandes metrópoles, nos envolvemos com tantos sons e ruídos diversos que, muitas vezes, passam-nos desapercebidos e deixamos de entender mensagens incríveis, não é mesmo?!
    Sou-lhe grata pela visita ao Roda. Adorei!
    Adoro Paulo Freire. Valeu a citação.
    Excelente semana a você.
    Muita paz! Beijosssssssssss

    ResponderExcluir
  5. Oi Celso, vim de orelhudo que sou, sem convite, visitar teu espaço.
    Confesso, o caminho que aqui me trouxe foi o Blog da Soninha, cheguei, li e gostei.
    Tenho ouvidos musicais e adoro música em qualquer tempo, altura ou idioma. Gosto da música pela música, mas não sou adepto às barulheiras malucas dos dias aruais que os contemporâneos resolveram rotular de música. essa tortura auditiva não faz parte do meu cardapio misical.
    Quando quisr e puder apareça lá n o meu cantimho de rabiscos.
    É humilde mas gosta de receber amigos.

    ResponderExcluir
  6. Caro Celso, é uma pena você não poder comparecer ao lançamento do Dicionário de Poética e Pensamento (www.dicpoetica.letras.ufrj.br). O motivo é justo, e muito! Espero que tenha sucesso em sua prova!

    Olha, como você disse que não sabia bem como é a prova, é o seguinte: é uma prova de língua instrumental, então, é necessário que entenda principalmente o contexto e tenha boa leitura no idioma que escolheu. A nota mínima é 7, como deve saber, e é uma etapa eliminatória, mas não classificatória. Então, não importa que tire 7, 8, 9 ou 10. O que importa é que atinja a pontuação mínima.

    Um abraço!

    ResponderExcluir