sábado, 10 de abril de 2010

Luto



  Não me recordava como a vida é tão dura e como as pessoas estão mal tratadas, esquecidas , entregues a própria sorte. Muitas só tem o dia e anoite, isso está estampado no rosto de homens, mulheres e crianças que vivem nas imediações da Central do Brasil, um dos pontos mais conhecidos do Rio de Janeiro.  É dificíl passar por ali e não sentir-se incomodado, não pelo fato daquelas pessoas estarem ali, mas pelo fato de ter que ser daquele jeito. A forma como se organizam, a forma como a circunstância lhes ensinou a viver. Passando pela Central no meio daquela multidão que chegava, trazida  pelos vagões da supervia, experimentei o absurdo da realidade. Multidão apressada, em todas as direções , para pegar a condução para mais uma viagem entre tantas daquele dia. Eles todos eram embalados por uma trilha sonora contrastante. Toda sujeira, todos os orelhões quebrados, todas as filas de todos os ônibus (caindo aos pedaços) sucatas ambumlantes. tendo ao fundo o tema da novela das oito..bossa nova, suave, limpa harmonia que parecia a metafora do que todos ali almejam ou desejam. Metafora perversa só concebida na mente de quem caminhava na contra mão, no contra-fluxo. Enquanto eu caminhava para baixada, toda a baixada baixava no centro em direção à zona sul, aquela mesma do tema que servia como trilha sonora idealizante e porque não dizer , acompanhando Tinhorão, alienante!  Mais a frente um murmúrinho, uma aglomeração. O guarda acabara de evitar um assalto , pequeno furto que toda hora acontece..alguns param, outros passam olhando, esticando os ouvidos pra ver (ouvir) se pegam alguma coisa , sem perder o ônibus que vai sair. Eu na contra-mão, procurando um orelhão pra ligar, nos tantos que já havia passado. Todos quebrados.   Admitindo uma certa perplexidade  descubro,  ou constato, o caos ao qual o centro está entregue, assim como outras áreas de nossa cidade (Niterói , São Gonçalo..)A uns 20 anos atrás a coisa não estava assim tão feia.  Senti toda minha carioquice se esvair pelo ralo, quer dizer, estacionar no ralo entupido em virtude da última chuva que inundou tudo e encheu as ruas de lama. Nesse caso não foram só as ruas que ficaram sujas  de lama, um pouco do orgulho de ser carioca também vai ficando manchado e quase submerso neste lamaçal. O lamaçal  das chuvas, mas também o do trambique, da indiferença com o povo, do descuido com o outro, o  que acaba influênciando nas "gentes".
Ps. Este texto foi escrito na madrugada do dia 06.04.2010. Dia em que Rio e Niterói assitiram a maior tragédia,  por causas naturais, registrada desde a década de 70.       

8 comentários:

  1. Olá Celso bom dia…

    Celso eu lamento o que aconteceu com vocês, os meus irmãos Cariocas.
    E a minha consciência diz: Não há justificativas aceitáveis. Para esta tragédia… Porque é sim! Um triste e real fato os descasos para com aqueles que tanto labutam, para conseguirem algo que venha beneficiar a si e a família… E de forma tão triste ver tudo se perdendo em poucos minutos.
    Esta tragédia e teu relato sobre a Central do Brasil, que em forma de tristeza aqui relatasse, me fez pensar no que postei esta semana. Onde comento exatamente sobre a falta de respeito que existe…

    Meu amigo, um bom domingo e inicio de semana junto aos teus.

    Abraços e até +

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  2. Olá, Celso!
    O Brasil todo lamenta pela tragédia que abateu RJ...suas cidades lindas, seu povo alegre, sua geografia fantástica, abaladas pela fúria da natureza.
    Somos solidários com você e com todo o povo do RJ.
    Que Deus ajude a todos.
    As diferenças sociais, de todos os matizes, incluindo a que você relatou, são gritantes. Não se restringem aos grandes centros urbanos e, agora, vão além dos centros, estendem-se às periferias, às cidades de interior, a todos os cantos...
    A bandelheira dos políticos estão a olhos vistos, falada e comentada por ilustres articulistas, denunciadas em todas as rádios, televisões e todos os outros canais de comunicação. Não se pode mais alegar desconhecimento. Há que se fazer algo. Começando por terem vergonha na cara, senso de humanidade e justiça, honranrem os compromissos assumidos quando eleitos e fazerem cumprir a própria constituição brasileira, não é mesmo?!
    Valeu, Celso.
    Excelente semana a você.
    Beijinhos em Pedro e Jakqueline. Lembranças a Lucy.
    Bom trabalho. Muita paz!
    beijossssss

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  3. Celso, estou chegando das férias que na verdade foram em casa mas saimos com as criancs para o zoológico, cinema, pipoca, algodao doce, essas coisas. Vimos nas TVs daqui a tragédia e a nossa dor foi grande só de ver tanta calamidade, tanto choro, tanta tristeza, tantas perdas. O nosso povo brasileiro já luta com tanto desespero para manter o dia a dia e ai vem uma tragédia dessas. Nao é a natureza que é má, e sim os homens que a administram. Homens sem fé, sem temor a Deus e sem respeito ao próximo. Há se houvesse Amor entre os homens na face da terra, tudo isso poderia ser diferente.

    Quanto o caos que é a Central do Brasil, nada mais é que o retrato do nosso Rio de Janeiro, da nossa Sao Paulo, das grandes cidades.
    Conheco bem pois trabalhei com meninos de rua durante dez anos. Central do Brasil e Praca Tiradentes foram os locais onde a minha igreja trablhou e tivemos frutos. Mas se o homem nao buscar a Deus, ele estará só no tempo do infortúnio.
    É como diz em Hebreus 4:16: "Cheguemos pois, com confianca ao trono da graca para que possamos alcansar misericórdia e graca, afim de sermos ajudados em tempo oportuno."
    Esse é o tempo oportuno e aquele que busca achará misericordia e sei que Deus providenciará ajuda.

    Te desejo uma semana abencoada junto aos seus

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  4. Aqui não é muito diferente, Celso. Temos gente dormindo na rua e pedindo esmolas nas esquinas, mas nem reparamos mais - os fantasmas urbanos não nos sensibilizam. Eventualmente, nos indignamos com alguma atrocidade cometida contra estes maltrapilhos sem nome, como recentemente aconteceu aqui em POA: um garotão pixou e urinou em um morador de rua (como exige a hipocrisia vernacular do politicamente correto). Os meios de comunicação noticiaram, os formadores de opinião protestatam e os cidadãos de bem se revoltaram. Mas já passou. O mendigo continua dormindo na rua. São assim os nossos tempos. Infelizmente, não há muito o que possamos fazer. O tempo das revoluções já passou.
    Um abraço.

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  5. Essas tragédias abatem-se sobretudo naqueles que já nada ou pouco possuem, o que é ainda a maior lástima.
    Lamento por todos que sofreram e sofrem as consequências dessa tragédia; dificilmente poderei imaginar a dimensão.

    Um abraço, Celso.

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  6. Celso, (muito mais mermão)
    depois bde ler teu texto e os comentários aqui inseridos, que mais tenho eu a dizer?
    Nada! ASOLUTAMENTE NADA.
    Quero apenas me solidarizar com o povo carioca e lembra-lo que Outubro está aí, vamos registrar nas urnas nossa revolta contra a politicanagem que assolla o pais.

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  7. Celso, vim te avisar que teu post está no ar. Passe por lá para nos visitar.

    Boa semana

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  8. É verdade, nosso ser carioca se envergonha dessa situação. Porém somos brasileiros acima de tudo e tragédias naturais acontecem em todo o mundo com muitas vítimas também.

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