domingo, 15 de agosto de 2010

Bateu uma saudade!



Fico sempre lembrando...acho que nunca escrevi sobre meu pai. As lambranças não são muitas, pois ele faleceu quando eu estava com 9 anos, a última imagem gravada na memória é de quando o visitamos no hospital. Como não era permitida a entrada de crianças, me despedi do meu pai pela janela da enfermaria onde ele estava internado.    Depois daquele dia eu não sei bem quanto tempo se passou até que ele falecesse. Não fui levado ao enterro e também não me lembro de nenhuma explicação a respeito da não existência dele. A única coisa que eu sabia e que ficou-me de conhecimento foi que ele estava internado porque adiquirira uma cirrose hepatica, essa foi a causa mortis de meu pai. Ele não falava muito..tinha pouco estudo mas parecia ser gente boa e um cara honesto. Seu único erro, aos meus olhos de criança, era o fraco pela bebida..chegava em casa violento depois que passava no buteco perto do barbeiro e sobrava pra D. Rita. Não me lembro de ter apanhado uma vez de meu pai..ele era um negão muito alto com mãos enormes de metalurgico. Bastva uma mãozada para me machucar. Nossa infância bem pobre de poucos brinquedos e muita imaginação morava na casinha se aluguel lá em são João do Meriti. Era pequena mas não me faltava nada. Seu Celson era homem de poucos amigos, só me recordo do Marcos um negão que sempre ia lá em casa, esposo da Marlene uma moça que vez ou outra minha mãe visitava lé em São Matheus, bairro próximo a São João. Lembro de uma reunião na casa do tio Gabriel em que meu pai estava e meu tio Sérgio também, eles conversavam mas era nítida a diferença entre meus tios e meu pai, seu Celson era homem rústico, mas pacato que causava uma certa impressão de brabeza. Acho que herdei dele este aspecto, o qual Jacqueline chama de "campo de força" quem não me conhece me toma por bravo. Toda a rusticidade de seu Celson o impedia de se aproximar de seus filhos de uma forma mais corporal..por isso se existir a possibilidade, na eternidade, gostaria de dar um abraço bem apertado no meu pai! Ah! segundo minha mãe ele sempre repetia: "Esse menino um dia vai ser dotô"!! É pai...falta pouco!  

5 comentários:

  1. Lindo, Celso!
    Fiquei muito emocionada com o seu relato!
    Uma história escrita pela vida, com verdade, com franqueza, com sensibilidade...
    Gosto muito do seu jeito de produzir os seus textos!
    Grande abraço, meu querido amigo!

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  2. Como você deve saber, Celso, a comunicação entre pai e filho não é fácil, e já foi pior. Você fez um relato muito bom de seu pai. Meu abraço.

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  3. Gostei muito do seu "texto-saudade" Você está muito prolífico!

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  4. Compreendo, Celso.
    Ontem, lembrando-me do meu pai, pensei: Como é possível, ao fim de 18 anos, ainda sentir esta saudade que me aperta a garganta?!
    É visceral.

    Claro que vou contribuir para a sua coleção de selos! Envie-me a sua morada, através deste email:
    maeEmuitomais@portugalmail.pt

    Uma boa semana!

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  5. Que coisa linda, mestre...

    Bom, sei que andei ausente, absorvido pelas circunstâncias, tragado pelo mundo... Mas ainda escrevo.

    Quero falar que foi com você, mestre, que vi e escutei pela primeira vez um tal de Bob Marley, lá na minha alta adolescência...
    Foi naquelas aulas de música que fui educando a minha sensibilidade musical, meu ouvido ...

    Lembro-me que certa vez eu disse: "Legião urbana é bom, mas é pobre musicalmente..." Você disse: "não é pobre, é o quanto eles se propõe a tocar..."


    Diferença sutil essa, antropológica, difícil de apreender naquele tempo. Mas ficou; hoje sei que cada cultura é suficiente para os fins que se propõe e que não devemos universalizar modelos.

    Você falou de utopia também, de utopia...

    E da flauta dançante dum flautista progressista - qual é mesmo o seu nome?...

    Enfim, nossas práticas pedagógicas repercutem mesmo quando não vemos o resultado direto ou imediato delas. Isto fundamenta nossa esperança, "pedagogia da esperança"(Paulo Freire).

    Grande abraço e saudações musicais!

    P.S. Quando defenderá a tese? quaresma.ufrj@yahoo.com.br/9867-3394

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