sábado, 22 de outubro de 2011

Travessia

 As imagens são muitos vagas na memória porque são lembranças de meus três ou quatro anos. Talves mais novo até! De quando, pela primeira vez, atravessei a Baia de Guanabara, nas barcas. Ainda eram aquelas gigantescas embarcações que moviam-se lentamente, quase junto com a brisa que batia em meu rosto  de criança deslumbrada.  Não me lembro quem me segurava na sacada da proa. As vezes acho que era meu tio Gabriel (já falecido) porque ele tinha o hábito de me colocar na carcunda. Por vezes a memória engana , pois meu tio Sérgio me carregava para tudo que era canto.  O fato é que hoje como tenho atravessado com mais frequencia a baia , e a viagem é infinitamente mais rápida do que a trinta anos  atrás, é difícil evitar a comparação e todas as vezes que pego a barca me vem aquela imagem da atracagem lenta. Algumas pessoas se posicionavam  na beira da proa, que vista da sacada formava um imenso semicirculo. Uma imprudência sem fim .  Lembro-me, ainda na adolescência, quando estudava no Rio e já morava em Niterói que levavamos pelo uns dez minutos para manobrar, pois, a entrada era única. Hoje ela atraca dos dois lados economizando tempo.  Mais tarde quando comecei a trabalhar lia boa parte do jornal na viagem da barca e quando voltava com a turma do banco sempre tinhamos tempo para tradicional "purrinha". Todos correm apressados para pegar um lugar. Eu vou na velocidade da "cantareira" levando os esbarrões por parte da turba. Da barca antiga pouco resta , a não ser a própria travessia, e ao fim e ao cabo sento-me no lugar que ninguém viu estar vazio.  Apesar de tudo, continuo privilegiando a travessia de barca no lugar de atravessar a ponte  barulhenta.  Acredito ser um previlégio navegar quase todos os dias da semana, mesmo que seja para ir e vir do trabalho.  A pressa vai tirando da gente a capacidade de nos encantarmos com as coisas aparentemente triviais. Não acredito que seja trivial ter como meio de transporte uma barca que tem como intinerário um cenário histórico....e olha que eu nem falei da paisagem ao redor, Pão de Açucar, Cristo Redentor, Pedra da Gávea, Morro da Tijuca, Forte Copacabana, Forte Rio Branco, Ilha FIscal, Aeroporto Santos Dumont.......  

4 comentários:

  1. Amo essa breve viagem de barca. Também me encanto com a paisagem, com a brisa, com o tempo que tenho para ler um livro, ouvir uma música...Por falar em perda de encantamento, sexta eu me peguei gargalhando ao ver bezerrinhos correndo num pasto. Outro dia foi um tucano voando na serra que pego indo pra Macaé. Acho que tenho a alma de filósofo, que nunca cansa de se encantar e surpeender com coias lindas, mas que vistas todos os dias, poderiam parecer comuns. Amei seu texto! Uma de minhas maiores saudades daí é desse trajeto.

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  2. Celso, vou te dizer uma coisa: sou nostálgica com relação à travessia das barcas. Não me conformo com essa viagem de 10 min. O charme está justamente em poder atravessar com calma e curtir a paisagem. Tantas conversas, tanto encanto. Somos privilegiados com a vista e tudo o que essas cidades oferecem (não repara, sou bairrista!!! rsrs). Acho que dá para fazer muita filosofia de qualidade neste percurso... travessia de águas, ares e emoções. Abração!

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  3. Não faço ideia de como seja atravessar de barca a baía de Guanabara, mas parece-me de fato que seja algo memorável. Sim, é um privilegiado, sobretudo, porque após todos esses anos, continua a ver beleza nessa viagem.
    Sabe que a rotina acaba com a capacidade de deslumbramento do ser humano.

    Um abraço, Celso.

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  4. Acho que é mesmo um privilégio este navegar constante. E espero que em 2012 vc continue curtindo todas as suas travessias, sejam elas físicas, emocionais ou espirituais.
    Grande beijo, companheiro. Felizes dias pra vc e familia.

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